Este Blog destina-se à divulgação de trabalhos, notícias e outros textos relativos à toponímia das artérias de diversas localidades, nomeadamente de Loulé e da restante região do Algarve. Pretende-se assim, através da toponímia, percorrer a memória das ruas, largos, avenidas, ingressando na história e património das urbes.


sábado, 18 de setembro de 2010

Em Faro – Dezenas de ruas da cidade ganham nomes

Nos últimos meses, a Comissão Municipal de Toponímia de Faro já atribuiu nomes a cerca de 80 arruamentos, cuja situação se encontrava por regularizar.

Segundo a autarquia, era frequente a adopção do “nome do promotor imobiliário ou nome comercial pelo qual era promovido o loteamento para identificar as ruas”, procedimento que, “além de não ser legal, faz com que deixasse de existir uma autoridade toponímica e começaram a surgir ruas sem nomes ou com nomes e números de lotes repetidos, entre outras situações”. Isso gerou “inconvenientes para os moradores”, como o extravio de cartas.

O actual executivo, presidido por Macário Correia, salienta que não vai “permitir a subsistência da desordem”.

Jornal “Correio da Manhã”, de 14/09/2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Av. 5 de Outubro – Faro

A actual Avenida 5 de Outubro, em Faro, foi edificada no final do século XIX, constituindo um importante eixo de desenvolvimento da cidade, em direcção à Capela de Santo António do Alto.

Até à actualidade já ostentou, pelo menos, três denominações diferentes, nomeadamente, Av. Mouzinho de Albuquerque, Av. Hintze Ribeiro e Av. 5 de Outubro.

Quando Mouzinho de Albuquerque (1855 – 1902), um importante militar português, derrotou as tropas do líder moçambicano Gungunhana, em Chaimite, a 28 de Dezembro de 1895, a Câmara Municipal de Faro emitiu um voto de louvor pelo feito alcançado, na sua reunião de 7 de Janeiro de 1896: “Constituída a Câmara e tendo o Snr. Presidente [João José da Silva Ferreira Netto] dito que em breve devia chegar a Faro uma parte da expedição d’África que tão gloriosamente havia conseguido derrotar o poderoso régulo Gungunhana e que esta Câmara devia aguardar a passagem dos expedicionários para demonstrar pelos meios que julgasse convenientes a sua gratidão por tão heróicos feitos d’armas, assim deliberou a Câmara; mais deliberou que se consignasse n’esta acta um voto de louvor aos referidos africanistas e que se telegraphasse ao Governo de Sua Majestade congratulando-se com elle e com o pays pelo feliz resultado das nossas armas e pedir-lhe o regresso aos dois regimentos do Algarve dos expedicionários que chegam brevemente a Lisboa.” Quase três meses depois foi feita nova referência ao acontecimento histórico, na sessão de Câmara de 26 de Março de 1896, prestando-se homenagem a Mouzinho de Albuquerque, o líder militar que o protagonizou, tendo sido atribuído o seu nome à nova avenida que se encontrava em construção: “Em seguida o Snr. Presidente tomando a palavra disse que sendo a expedição d’África composta por um terço de soldados do Algarve, não se recusando nunca esta província na guerra ou na paz, a contribuir para quanto possa enaltecer a nossa querida pátria, em presença de um acto d’heroísmo de tal magnitude como o que prestou o ilustre Capitão hoje major Mousinho d’Albuquerque que prendendo em Chaimite o poderoso régulo Gungunhana em presença de mais de 3.000 vátuas, devendo um acto de tal bravura constar no maior número possível documentos escriptos d’esta epocha, marcada na história pátria por um feito tão brilhante que offusca quantos actos de bravura se teem praticado (…), não podia a nobre cidade de Faro, que nos honramos de representar, ficar silenciosa nem deixar d’inscrever por qualquer forma perdurável o nome a quem está indelevelmente ligada esta pagina d’ouro da história de Portugal, por isso propunha elle Snr. Presidente que se desse o nome de Mousinho d’Albuquerque à nova avenida de quarenta metros que começando na Rua de Santo António se dirige à Capella do mesmo nome a ½ kilometro d’esta cidade. O que sendo posto à votação foi approvado por aclamação unânime de todos os Snrs. Vereadores presentes.”

No final do século XIX ou início do século XX o nome do militar africanista foi eliminado da toponímia farense, sendo substituído pelo do político Hintze Ribeiro (1849 – 1907), que liderou o governo de 1893 a 1897, de 1900 a 1904 e em 1906.

Com a implantação da república, nova alteração na denominação da avenida farense, passando, por proposta do vogal António Martins Paula, no dia 20 de Outubro de 1910, a designar-se por Avenida 5 de Outubro, rememorando a data da revolução republicana.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Rua Maria José Cabeçadas – Loulé

A mais recente homenagem prestada a uma personalidade louletana na toponímia da cidade ocorreu a 10 de Fevereiro de 2010, com o descerramento da placa toponímica e pretendeu evocar o nome de Maria José Cabeçadas, numa cerimónia que contou com a presença dos familiares desta benemérita, entre os quais o psiquiatra Daniel Sampaio, seu genro.

A artéria que recebeu o nome de Maria José Cabeçadas localiza-se junto à Casa da Primeira Infância e constituiu uma singela homenagem do Município de Loulé a uma mulher que teve um papel determinante na criação da primeira creche em Loulé, deixando um legado inestimável no apoio social. A deliberação camarária de atribuição do topónimo ocorreu a 27 de Janeiro de 2010.
Maria José Cabeçadas Ataíde Ferreira

Natural de Loulé, nasceu a 8 de Agosto de 1911 e faleceu em Lisboa a 7 de Abril de 2004.

Estudou no Liceu Camões e formou-se em Farmácia, em 1934, na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Após esta passagem por Lisboa, regressou ao Algarve, onde foi directora da Farmácia do Montepio dos Artistas, em Faro e da Farmácia Cabeçadas (localizada frente ao Hospital da Misericórdia), em Loulé, de que era proprietária.

Nesta localidade organizou a Mocidade Portuguesa Feminina e exerceu durante 7 anos o cargo de subdelegada desta organização.

Foi a fundadora de uma creche em Loulé, que se passou a denominar Casa da Primeira Infância, inaugurada no dia 10 de Junho de 1945, com o objectivo de proteger, amparar, alimentar e tratar da saúde de crianças pobres, enquanto as mães se ausentassem por motivos de trabalho.

Pouco tempo depois regressou a Lisboa onde foi proprietária e directora técnica da Farmácia Colonial.

domingo, 5 de setembro de 2010

Avenida Lídia Jorge – Loulé (Proposta)

No dia 2 de Junho de 2009 a Câmara Municipal de Albufeira aprovou, por proposta do seu Presidente, atribuir o nome da escritora Lídia Jorge à Biblioteca Municipal daquela cidade. A cerimónia de homenagem ocorreu no dia 7 de Outubro, imortalizando o seu nome naquele equipamento cultural.

Esta honrosa e merecida distinção constitui motivo de honra e orgulho para Loulé, colocando Lídia Jorge na galeria dos seus filhos ilustres que se têm distinguido nas mais diversas áreas. Não pode contudo passar indiferente o facto de a homenagem ter sido prestada por outro Município algarvio que não o da sua naturalidade. Estão pois os louletanos em dívida para com esta escritora de renome no panorama literário nacional e internacional, devendo-se empreender esforços no sentido de colmatar tal situação.

Dado que o Regulamento Municipal de Toponímia e Numeração de Polícia refere que “Não serão atribuídas designações antroponímicas com o nome de pessoas vivas, salvo em casos extraordinários em que se reconheça que, por motivos excepcionais, esse tipo de homenagem e reconhecimento deva ser prestado durante a vida da pessoa e seja aceite pela própria”, poder-se-ia desta foram consagrar esta ilustre louletana através da toponímia.

Porque não atribuir o nome de Lídia Jorge a uma artéria da cidade de Loulé, tal como já aconteceu anteriormente com as recentes avenidas construídas na cidade, em que se prestaram homenagens a personalidades louletanas que se destacaram nas mais diversas áreas, como Andrade de Sousa, Laginha Serafim, Manuel Maria Laginha e Júlio Mealha? Porque não substituir a designação da actual Avenida Parque das Cidades, topónimo que nunca foi aprovado pelo executivo municipal e que pouco ou nada diz ao local onde se encontra, nem tão-pouco à população residente? Não seria difícil encontrar coragem para rever a situação e marcar o futuro com uma designação que honrasse os louletanos.

O brilhante percurso académico e cívico aliado à notoriedade e prestígio literário que alcançou, conferem a Lídia Jorge uma posição de topo entre os louletanos, pelo que é de todo justificado que o concelho de Loulé consagre o seu nome, perpetuando-o numa avenida da cidade.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Faro inaugura toponímia

No âmbito das comemorações do Dia do Município, que se realiza a 7 de Setembro, a Câmara Municipal de Faro irá proceder ao descerramento de placas toponímicas em três artérias do concelho.
Assim, serão inauguradas ruas com nomes de cidadãos de Faro, entre os quais o caricaturista Francisco Zambujal, Diamantino Barriga e Hélder de Azevedo.
Uma iniciativa do executivo farense, que merece um elogioso louvor, pela forma como tem tratado o tema da toponímia nos últimos meses, visto que a cidade e o concelho apresentavam uma autêntica anarquia a esse nível.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Praça Hélder de Azevedo – Gambelas

No âmbito das comemorações do Dia do Município de Faro, a 7 de Setembro de 2010, irá ser descerrada a placa toponímica em homenagem a Hélder de Azevedo, situada numa nova zona urbana, em Gambelas, junto ao Hospital Particular e não muito longe da Universidade do Algarve. O topónimo foi aprovado em reunião da Câmara Municipal de Faro de 14 de Julho de 2010.

Deixo aqui a biografia deste ilustre algarvio, retirada do blog “Moura Encantada”, do meu prezado amigo Bruno Lage, neto do homenageado.

Hélder de Azevedo

Hélder Cavaco de Azevedo, filho do conhecido jornalista algarvio e professor Cruz de Azevedo e da professora primária Maria da Circuncisão Alves Cavaco de Azevedo, nasceu em Faro a 26 de Novembro de 1922, onde frequentou o Liceu local.

Em 1930, descerrou em nome das crianças das Escolas Primárias de Portugal, o monumento em homenagem ao poeta e pedagogo João de Deus, mandado erigir por seu pai, Cruz de Azevedo, no Jardim Manuel Bivar em Faro.

Casou-se em 1944 com Laura dos Santos Sousa de Azevedo e do seu matrimónio nasceram dois filhos, ambos residentes na capital algarvia.

Em 1943 ingressa no Exército e em 1949 segue para Angola, onde é convidado a dirigir o Gabinete Fotográfico e Cinematográfico do Quartel-General em Luanda. Simultaneamente estabelece-se com fotografia naquela cidade, tendo-lhe sido adjudicado todo o trabalho fotográfico relacionado com a 1ª Feira das Indústrias de Luanda e os mesmos expostos depois na cidade de Bulawayo na Rodésia.

Regressado a Portugal estabeleceu-se de novo em Faro e depois também em Tavira, com o ramo fotográfico. Concorre então a diversos Concursos Internacionais de Fotografia onde obtém 1ºs, 2ºs e 3ºs lugares e diversas Menções Honrosas, que lhe conferem o estatuto de fotografo prestigiado e de renome internacional passando a ser fornecedor da maior parte dos grandes jornais nacionais e estrangeiros, destacando-se entre eles o New York Times, sendo também convidado para participar na 3ª Bienale de Fotografia e Cinema realizado em Paris, pela UNESCO. Para além de fotografia também executa trabalhos na área do cinema, produzindo alguns documentários para a Tobis e depois para a RTP sobre as pescas e outros traços da etnografia algarvia, não deixando também de filmar as belezas naturais que estiveram na base do arranque do turismo na região algarvia.

Em 20 de Julho de 1968 funda no seu estabelecimento em Faro, situado na Rua D. Francisco Gomes, nº 30, o seu próprio Museu Etnográfico tendo recebido inúmeros visitantes, destacando-se o Rei Humberto da Itália e restante família real aquando da sua visita a Portugal e à região do Algarve.

Colaborou em diversas revistas e publicações entre elas o “Algarve Ilustrado”, os “Anais do Município de Faro” e a Revista “Elos da Comunidade Lusíada”, desempenhando nesta última as funções de Director.

Muitos dos seus trabalhos encontram-se expostos em diversos Museus Etnográficos do País e muito em especial no de Faro, onde é único expositor com centenas de fotografias, sendo com Carlos Porfírio um dos seus fundadores (museu actualmente encerrado).

Forneceu também diversos Consulados de Portugal, entre os quais o de Sevilha, com belas fotografias em grande formato, sobre motivos regionais algarvios.

Dedica-se depois ao jornalismo e rádios locais, onde os seus artigos, intervenções cívicas e postais citadinos tiveram o melhor acolhimento.

Foi aprofundando ao longo dos anos os seus conhecimentos e o seu entusiasmo pelo Radio-amadorismo e em 1 de Outubro de 1982, fundou a R.A.R.E.P. – Ronda de Amizade de Radioamadores de Expressão Portuguesa, a qual conta com cerca de mil associados espalhados por todo o mundo. Organizou então vários Concursos Internacionais de Rádio, literários e Exposições de Fotografia, além do 1º Congresso Ibérico de Radioamadores.

Em 30 de Outubro de 1983, fundou o Elos Clube de Faro que devido à sua constante actividade, foi considerado na Convenção Internacional Elista de 1987, realizada no Rio de Janeiro – Brasil, como o Elos Padrão e foi convidado a organizar a Convenção Internacional de 1989 no Algarve. Para além de ser fundador, desempenhou as funções de presidente da Direcção do Elos Clube de Faro durante uma década, tendo posteriormente assumido as funções de Presidente da Mesa da Assembleia Geral desta mesma associação e de Governador Elista do Distrito n.º 28 ou Sul (Algarve e Alentejo).

Em 1989 foi candidato, pelo CDS, à Junta de Freguesia da Sé – Faro.

Hélder de Azevedo, foi um artista de raro talento como pintor a óleo e aguarela, procurando transportar para os seus quadros aquilo que via e sentia, os recantos mais típicos que conhecia do seu querido Algarve, porque deste modo teria a possibilidade de divulgar a região que lhe foi berço e que tanto amava.

No campo literário Hélder de Azevedo também se destacou obtendo em diversos concursos e Jogos Florais nacionais e internacionais 1ºs, 2ºs e 3ºs prémios e Menções Honrosas, tendo sido membro da AJEA – Associação de Jornalistas e Escritores do Algarve e da tertúlia dos poetas que regularmente ainda se reúne em Faro.

Veio a falecer em Faro a 2 de Outubro de 2001.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Rua Maria Isabel Duarte Pacheco – Bensafrim

A Vila de Bensafrim conta com mais uma designação toponímica. A placa descerrada no dia 28 de Agosto de 2010, constituiu uma singela, mas sentida, homenagem a Maria Isabel Duarte Pacheco, uma filha de Bensafrim relembrada por todos os presentes como uma pessoa dinâmica, curiosa, de mentalidade avançada para a sua época, mas que, acima de tudo, gostava de fazer o bem e de ajudar quem mais precisava.


Maria Isabel Duarte Pacheco

Maria Isabel Duarte Pacheco, nasceu a 25 de Abril de 1897 e faleceu em 30 de Junho de 1997. Conhecida em Bensafrim como D. Pachequinha, foi filha única de José Vicente Pacheco (Júnior) e de Maria Isabel Duarte, proprietários e lavradores abastados. Desde a infância, acompanhava o pai na direcção e administração dos trabalhos agrícolas tornando-se, com o tempo, uma profunda conhecedora da terra e dos seus métodos de produção. Amava a terra, conhecia e respeitava os seus ritmos, maravilhando-se permanentemente com o desabrochar cíclico da natureza. Geria-a com harmonia, tenacidade e eficiência e, na hora da partilha dos seus frutos, fazia-o com justiça e generosidade para aqueles com quem a vida era menos benigna.

Jovem, recém-casada, partiu com o marido para Angola, por motivo da carreira militar deste. No entanto, não se limitou ao papel de mãe e mulher do Administrados do Concelho, pois interveio com o seu saber e conhecimento, em prol da melhoria da qualidade de vida das populações, cuja cultura admirava e respeitava, sendo que lhe retribuíam do mesmo modo. Regressada de Angola para Bensafrim, retomou as suas funções de administração das propriedades. No fim da sua vida, com menos saúde e autonomia, viveu em Faro, feliz mas ansiando pela chegada do Verão, que poderia passar em Bensafrim, que vivia no seu sangue, e onde repousa desde 30 de Junho de 1997.

Foi durante a sua vida, e até ao fim desta, uma senhora de princípios e valores, curiosa e atenta ao que se passava no Mundo, de atitude suave e naturalmente empática, mas pertinaz nas suas convicções e persistente na transmissão desses princípios aos seus descendentes.