O Município
de Lagos homenageou quatro cidadãos, perpetuando os seus nomes na toponímia da
cidade. O descerramento das placas decorreu no passado dia 1 de novembro, numa
cerimónia realizada no âmbito das comemorações do dia do Município, passando as
artérias a denominar-se: Rua Emmanuel da Costa Correia (Historiador); Rua João
Braz (Poeta); Rua António Diogo Bravo (Industrial) e Rua António Aleixo
(Poeta).
A sessão solene
que antecedeu a cerimónia de descerramento de placas toponímicas decorreu no auditório
dos Paços do Concelho Séc. XXI, na presença de vários convidados, na sua
maioria amigos e familiares dos homenageados.
Na ocasião,
a presidente
da Câmara Municipal de Lagos, Maria Joaquina Matos, não quis deixar de
referir que a Câmara Municipal de Lagos “sempre valorizou muito a área da
toponímia”, frisando que “todos os nomes consagrados nas placas do nosso
município contribuíram para uma sociedade melhor”. A autarca mostrou-se muito
honrada “em termos a possibilidade de prestar esta homenagem a estes quatro tão
importantes vultos, que são exemplos de vida para o nosso presente e para o
nosso futuro. Desejamos que a sua memória perdure para a posteridade”,
concluiu.
Também a vereadora com os
pelouros da Cultura e da Toponímia, Maria Fernanda Afonso, deixou umas
breves palavras nesta cerimónia, lembrando que “a História é feita pelos povos
e, no limite, pelo conjunto de histórias singulares dos indivíduos em
sociedade”. Para a vereadora, e assumindo-se a toponímia como uma referência
dos valores históricos, culturais de cada lugar e memória coletiva de factos,
personalidades, tradições “faz todo o sentido registar sistematicamente as
personalidades, os casos mais marcantes, começando por descobri-las nas
designações das ruas, dando vida a quem fez história e reforçando e
reconstruindo memórias e identidades locais”.
Ouvidas as
intervenções do executivo municipal, foram convidados os representantes das
famílias a proferir algumas palavras. Todos os familiares quiseram deixar
palavras de agradecimento à autarquia pela homenagem prestada a estas personalidades,
e pelo facto de ter sido “reconhecido o mérito que tiveram no percurso das suas
vidas, nas diferentes áreas”. Da família do poeta João Braz falou Vera Machado
(neta) e Rosa Andrade (sobrinha), que recitou alguns poemas do seu tio. Em
representação dos familiares de António Diogo Bravo falou o seu neto, António
Ricardo Bravo Mexia Chaves Costa.
O último convite para usar da palavra foi feito a Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé e neto do poeta António Aleixo, que à semelhança dos anteriores familiares voltou a agradecer o facto do Município de Lagos “manter viva a memória do meu avô, um homem muito humilde e bastante incompreendido no seu tempo, mas que curiosamente deixou uma obra poética bastante atual”, convidando todos a conhecer um pouco mais deste poeta popular algarvio.
A cerimónia
terminou na zona da Atalaia, com o descerramento das respetivas placas
toponímicas.
Os novos
topónimos resultaram de uma proposta de atribuição de denominações toponímicas
para a Freguesia de Santa Maria (zona da Atalaia), que a Comissão Municipal de
Toponímia deliberou, por unanimidade, na reunião de 29 de maio de 2008,
apresentar à Câmara Municipal de Lagos, tendo a mesma merecido a aprovação
unânime do órgão executivo em reunião realizada a 18 de junho de 2008. Estava em causa não apenas a identificação novos arruamentos numa zona de expansão urbana da cidade, como a oportunidade de, uma vez mais, se prestar homenagem através da toponímia a personalidades que a seu tempo se destacaram nos mais variados domínio, recordando a sua vida e obra, e fazendo perdurar, nas gerações atuais e futuras, pedaços de uma memória coletiva que dá conteúdo à identidade de um povo e dos lugares.
Emmanuel da Costa Correia
Nasceu em
Odeceixe, concelho de Aljezur, em 1936, tendo falecido em 2003 com 67 anos de idade.
Licenciou-se em belas artes pela E.S.B.A.L., secção de ciências pedagógicas, e
em história pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, tendo
ainda obtido o grau de mestre em história da arte pela Universidade Nova de
Lisboa.
Foi
professor do ensino primário, mais tarde professor do ensino secundário e
exerceu ainda funções docentes na Faculdade de Letras da Universidade Clássica
de Lisboa.
Desde muito novo despertou interesse por diversas
manifestações culturais, destacando-se como artista plástico (que se expressa na tela e na escultura),
como
historiador e investigador.
Participou
com entusiasmo e eloquência em colóquios, conferências e congressos
sobre história, arte e cultura portuguesa e deu prelo alguns opúsculos dedicados a monumentos de Lisboa..
Ao longo do
seu percurso pessoal sempre demonstrou um grande amor pela terra onde nasceu e pela
sua província natal. Este empenho manifestou-se
na colaboração com iniciativas da Câmara Municipal de Aljezur e na dinamização
da revista Espaço Cultural, de que
foi diretor, dirigida especialmente para a história, património natural e cultural
de Aljezur. Tornou-se colaborador de alguns jornais
regionais como o Concelho de Aljezur,
O Algarve e Folha de Domingo. Dedicou parte do seu tempo à recolha e estudo de
documentos históricos e etnográficos significativos da arte e da cultura algarvia.
Foi membro
dos corpos gerentes da Casa do Algarve em Lisboa e coordenador do Centro de
Arte e Cultura Teixeira Gomes.
Recusou por várias vezes convites formulados para ocupar cargos políticos.
O Dr.
Emmanuel Correia foi um extraordinário defensor da cultura nacional e um acérrimo divulgador da arte, do património e da história de Portugal.
João Braz
João Braz
Machado nasceu em São Brás de Alportel, a 13 de março de 1912 e faleceu em
Portimão, em 1993. Fez o curso da Escola Comercial e Industrial de Silves, cidade
para onde os pais, daí naturais, regressaram, vindos de S. Brás de Alportel. Desde
cedo, mostrando propensão para as letras, a sua vida profissional far-se-á,
contudo, ligada à contabilidade. Paralelamente e até ao fim da vida desenvolveu
grande atividade criativa. Foi diretor de A
Rajada, de Silves, colaborou em muitos jornais e revistas do Algarve nomeadamente
na revista Costa de Oiro, de Lagos,
onde assinou com o pseudónimo de “Menestrel” e, no jornal Correio do Sul; fundou a Vibração,
que contou com nomes que viriam a ter relevo no mundo das letras, entre eles o
silvense Julião Quintinha.
O poeta João
Braz colaborou em vários jornais da capital, nomeadamente em O Diabo. Na revista Espectáculo publicou contos e poesia. Concorreu a muitos jogos
florais em Portugal e no Brasil, onde foi premiado. Em 1977 tornou-se membro da
Associação Internacional de Poetas (Cambridge). Figura na “Colectânea de Poemas
de Dez Poetas Algarvios”, de Joaquim Magalhães.
Escreveu
teatro e recebeu o “Prémio Diário de Lisboa” pela peça em 1 ato Casar por Anúncio. Escreveu as revistas
“Sendo Assim Está Certo…”, “Fitas Faladas”, “Feira de Agosto” e “Isto só Visto”,
com a qual foi inaugurado o antigo Cine-Teatro de Portimão. Produziu três autos
em verso: El-Rei Xexé, Serração da Velha e Máscaras. Toda a obra para teatro criada por João Brás foi representada,
mas não editada.
Deixou-nos: Esta Riqueza que o Senhor Me Deu…,
poemas, 1953 (2.ª edição revista e aumentada, 1978), A Mário Lyster Franco, aquele Abraço… Poema (mais 14 inéditos),
1978.
Em 1993
morreu “o Príncipe dos Poetas Algarvios”, como um dia foi aclamado, deixando a gaveta
cheia de poemas inéditos.
António Diogo Bravo
Nasceu em
Lagos, a 27 de julho de 1916 e faleceu em Lisboa, a 20 de julho de 1992. Oriundo
de uma família modesta, atingiu, por mérito próprio, o mais alto estatuto na
indústria farmacêutica nacional e europeia, cujo percurso merece ser
reconhecido.
Com a
instrução secundária incompleta, cumpriu o serviço militar
em Setúbal. No início dos anos 40, de parceria com o dr. Miguel Cocco – filho
de um industrial italiano com fábricas de conserva de peixe em Lagos – ligou-se à indústria farmacêutica, na produção de medicamentos,
e, posteriormente, na importação e produção de matérias primas, atividades em
que se projetou a nível nacional e internacional.
Dinâmico e
empreendedor, foi presidente do conselho de administração das seguintes empresas:
Instituto Luso-Fármaco de Lisboa, S.A.; Medicamenta, S.A.; Tecnifar, S.A.;
Instituto Luso-Fármaco de Itália, que viria a ser dos mais importantes da
Europa; Instituto Luso-Fármaco de Espanha; Lusochimica de Como; e Farpor
S.A.R.L.
Paralelamente,
desdobrava-se em múltiplas atividades através da sua participação em empresas,
que vão das artes gráficas, passando pelas pescas, moagens e destilarias, e
ainda na área financeira e de seguros, nestes dois últimos casos, através da
Banca Cesare Ponti de Milão e Atlas, Lda..
Foram muitas
as insígnias recebidas por este ilustre lacobrigense, entre as quais
se destacam as seguintes ordens e distinções honoríficas: Grande
Comenda da Ordem de Mérito Industrial; Cavaleiro da Grã Cruz da Ordem do Santo Sepulcro;
Comenda da Ordem de Mérito da República Italiana; Cavaleiro da Grã Cruz da Sacrossanta
Ecclesia Lateranensis; Accademico Associado Dell’Academia Tiberina de Roma; Comenda
da Ordem do Infante D. Henrique; Cavaliere di Gran Croce del Mérito Della República
Italiana.
António Diogo Bravo foi ainda vice-cônsul de Portugal em Milão e cônsul
de Portugal em Florença. Fez centenas de discursos em que à inteligência da
oratória ligava o dom da comunicação. Muitas destas peças encontram-se reunidas
numa coletânea que faz parte do valiosíssimo espólio que deixou.
António Aleixo
António
Fernandes Aleixo foi um dos poetas populares algarvios de maior relevo.
Nasceu em Vila Real de Santo António a 18 de fevereiro de 1899 e faleceu em
Loulé a 16 de novembro de 1949.
Do seu percurso de vida fazem parte profissões
como tecelão, polícia, servente de pedreiro, trabalho que, emigrado,
também exerceu em França. Volvido ao seu país natal, estabeleceu-se novamente
em Loulé, onde passou a vender cautelas e a cantar as suas produções nas
feiras, atividades essas que se juntaram ao seu rol de profissões.
Poeta
detentor de uma rara espontaneidade, de um apurado sentido filosófico e
notável pela «capacidade de expressão sintética de conceitos com conteúdo de
pensamento moral», Aleixo vai sendo conhecido e bastante apreciado por inúmeras
figuras, das quais se destacam Dr. José Pedro, Dr. Joaquim Magalhães, José Rosa
Madeira, que o protegem, divulgam e colecionam os seus escritos.
Da coleção
formada por José Rosa Madeira e outras composições recolhidas, nasceu o primeiro
livro em 1943, editado pelo Círculo Cultural do Algarve. A opinião pública
aceitou-o com bom agrado, sendo bem acolhido pela crítica. Com uma tiragem de 1100
exemplares, o livro esgotou-se em poucos dias, o que proporciona a Aleixo uma
pequena melhoria de vida, que é ensombrada pela morte de uma sua filha, doente
com tuberculose. Desta mesma doença viria o poeta a sofrer, tendo que ser
internado no Hospital-Sanatório dos Covões, em Coimbra, em 1943. Aqui descobriu
novas amizades e deleitou-se com novos admiradores, que reconheceram o seu talento.
Os seus últimos anos de vida foram passados, ora no sanatório, em Coimbra, ora
em Loulé.
Aleixo está
hoje, entre nós, bem consagrado e presente. As suas obras foram apresentadas na
rádio e televisão, os seus versos incluídos em diversas antologias, o seu nome figura
na história da literatura, é patrono de instituições e grupos
político-culturais, tem o nome em várias esquinas de ruas do país e existem
medalhas cunhadas e monumentos erigidos em sua honra. Da sua autoria estão
publicadas as seguintes obras: «Quando começo a cantar» - (1943); «Intencionais»
- (1945); «Auto da vida e da morte» - (1948); «Auto do curandeiro» - (1950); «Este
livro que vos deixo» - (1969); «Inéditos» - (1979); tendo sido, estes três
últimos, publicados postumamente.
Fonte: