Figura marcante do século XX em Loulé, Raul Rafael Pinto (1904 -1983), um verdadeiro seguidor das políticas do Estado Novo, foi uma personalidade extremamente influente e de vastos conhecimentos, granjeando prestígio a nível local, regional e até nacional. Consta que foi o responsável pela vinda a Loulé do presidente do Conselho Oliveira Salazar, por ocasião da inauguração do Monumento a Duarte Pacheco (1953).
Exerceu os cargos de secretário da Administração do Concelho (1927) e de chefe da Secretaria da Câmara Municipal de Loulé (1928 – 1955), dirigindo dessa forma os serviços municipais. Foi membro da Legião Portuguesa e da União Nacional.
Após o golpe militar de 25 de Abril de 1974, durante a transição para o regime democrático, Raul Pinto foi discriminado e frequentemente apupado, devido às suas fortes convicções ligadas ao regime anterior e pelo poder que havia exercido durante esse período, enquanto líder dos destinos do concelho, sendo acusado de promover perseguições.
Sete anos após o seu falecimento, em Novembro de 1990, o jornal “A Voz de Loulé” lançou o alvitre para que se associasse o seu nome a uma rua da cidade, “pela sua grande dedicação aos problemas da terra natal e pelo muito que trabalhou para a valorizar e fazer progredir”.
Assim, devido à marca que imprimiu e ao papel relevante na liderança das funções que exerceu no concelho de Loulé, o Município louletano decidiu homenageá-lo, através da outorga do seu nome a uma via, aprovada em reunião de 12 de Março de 1991. Passados cerca de 3 anos, aquando da aposição das placas toponímicas, foi colocado o nome de outra personalidade (Gonçalo de Loulé) em seu lugar, tendo este louletano sido banido da toponímia. Desconheço as razões porque tal facto ocorreu, mas provavelmente devido a quezílias relacionadas com as convicções políticas despoletadas pelo nome do emblemático Raul Pinto.
No ano 2008 nova tentativa para inscrever o seu nome numa rua e nova polémica surgida. A 20 de Fevereiro de 2008 a Câmara Municipal de Loulé aprovou novamente a denominação de uma artéria com o nome deste louletano, localizada na Urbanização das Romeirinhas. Contudo, os ecos de protesto de alguns elementos da sociedade civil, que haviam convivido de perto com Raul Pinto, fizeram-se ouvir de imediato, tendo a edilidade resolvido, a 27 de Janeiro de 2010, substituir a denominação pela de outra notável louletana (Ermelinda Aboim).
De facto, se em vida Raul Pinto gerou “amores e ódios”, isto é, usufruía de muitos amigos mas também de inúmeros inimigos, próprio da época e da conjuntura em que a sociedade vivia, depois de falecido o seu nome continua a ser alvo de inflamada polémica e discussão, não sendo consensual que se preste homenagem a tão destacado louletano, principalmente através da toponímia local.
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