Este Blog destina-se à divulgação de trabalhos, notícias e outros textos relativos à toponímia das artérias de diversas localidades, nomeadamente de Loulé e da restante região do Algarve. Pretende-se assim, através da toponímia, percorrer a memória das ruas, largos, avenidas, ingressando na história e património das urbes.


sexta-feira, 25 de abril de 2014

40 anos de abril

Assinalam-se hoje os 40 anos sobre a revolução dos cravos. Uma data marcante para a história nacional e comemorada em o país. Desta forma, divulgo um texto, retirado de um jornal diário nacional, relativos à presença de topónimos associados ao 25 de abril, no país. O texto é da autoria da jornalista Susete Francisco e foi publicado no jornal i, no dia 23 de abril. 

 
25 de abril. A revolução está nas ruas
 
Encontram-se em becos, largos, ruas, alamedas e avenidas. Nas maiores cidades como nas aldeias mais pequenas: as referências ao 25 de abril e àqueles que protagonizaram a revolução estão espalhadas pelas ruas de Portugal. O levantamento feito concluiu que os topónimos referentes ao golpe que derrubou a ditadura superam os 1500 por todo o país. O nome “25 de abril” já ultrapassou “clássicos” da toponímia portuguesa como a República ou o 5 de outubro.
 
A referência à data da revolução é, de longe, a mais popular de todas as evocações - 1159 topónimos “25 de abril” em todo o país. São 151 avenidas, nove alamedas, 15 bairros, 17 becos, 126 largos, 25 praças, 27 pracetas, 634 ruas, 125 travessas. Uma contabilidade em que entram ainda calçadas, caminhos e campos, estradas, jardins, urbanizações, veredas e uma viela, parques e passeios. Um rossio e quatro rotundas. E uma ponte. Não é raro que, na mesma localidade, o nome se repita em dois ou três topónimos (rua, travessa e beco, por exemplo). Veja-se o caso de Gondomar, onde há uma Avenida 25 de abril e, próximo, uma Rua 25 de abril. Ligadas por um passeio chamado... 25 de abril.
 
Placa toponímica em Lisboa
Curiosamente, a cidade de Lisboa, grande palco dos acontecimentos de 1974, é das mais comedidas. Na capital há uma Praça 25 de abril, assim nomeada em 1999, por ocasião dos 25 anos da revolução. Há uma razão para isso. Teresa Sancha Pereira, autora de um trabalho apresentado às quartas Jornadas de Toponímia da capital – “A Revolução de Abril na Toponímia de Lisboa e nos Concelhos Limítrofes” - sublinha que “enquanto em Lisboa os topónimos não são repetidos, a mesma designação é atribuída repetidas vezes nas diferentes freguesias [dos concelhos limítrofes], existindo mesmo a preocupação de, na mesma data, se atribuir a mesma designação com diferentes classificações: avenida, travessa, rua, praça, largo”. É assim que Loures conta 32 topónimos "25 de abril" e Almada 15. 
 
Salgueiro Maia é o mais nomeado
 
Sintomático é o nome que se segue: a seguir à data, é Salgueiro Maia o nome mais homenageado na toponímia portuguesa. O capitão de abril, que morreu em 1992, conta 156 referências pelas ruas do país – é de muito longe o mais referenciado dos militares de abril. Além do óbvio protagonismo do capitão que, na madrugada de 25 de abril de 1974 saiu de Santarém em direção ao Terreiro do Paço, há outro fator a considerar – em muitas localidades (como Lisboa) não é permitido consagrar na toponímia o nome de personalidades vivas. 
 
As Forças Armadas são outro topónimo relevante (também em versão Movimento das Forças Armadas, MFA ou Aliança Povo MFA), repetindo-se 132 vezes. As referências a cravos, sob diversas formas, também ultrapassam a centena – 108 no total. Já o topónimo “Capitães de Abril” surge referenciado 62 vezes.
 
Otelo Saraiva de Carvalho dá o nome a quatro ruas (em Vale de Vargo, Porto Alto, Grândola e Lagoinha). Vasco Lourenço a uma rua em Castelo Branco e a uma travessa em Óbidos.
 
No total, foram contabilizados 1623 referências à revolução. E o resultado não é exaustivo – por exemplo, o topónimo Liberdade, bastante numeroso em Portugal, é em muitos casos evocativo do 25 de abril. O levantamento foi feito a partir de uma base de dados dos CTT (referindo-se, assim, a artérias com código postal, eliminando as duplicações que resultam de um topónimo poder ter mais de um código).
 
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