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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Escola Básica Professor Joaquim Moreira – Martim Longo (Alcoutim)

A Escola Básica de Martim Longo iniciou a sua actividade lectiva em Outubro de 1999, constituindo um importante marco para o desenvolvimento desta freguesia do interior algarvio.

Placa de homenagem
Em sessão de 9 de Julho de 2008 a Câmara Municipal de Alcoutim aprovou a atribuição do nome do professor Joaquim Moreira, como patrono do estabelecimento de ensino, tendo a denominação sido ratificada por despacho do Secretário de Estado da Educação, datado de 9 de Junho de 2011.

Seis meses depois, a 7 de Novembro, coincidindo com o oitavo aniversário do falecimento do professor Joaquim Moreira, a Câmara Municipal de Alcoutim, conjuntamente com o Agrupamento de Escolas do Concelho, prestaram-lhe homenagem, através da realização de diversas iniciativas, nomeadamente uma missa solene, o descerramento de uma placa alusiva à efeméride, a apresentação de uma exposição biográfica e uma sessão de testemunhos.

Nesta homenagem estiveram presentes várias entidades locais e regionais, onde se destacaram o Director Regional de Educação do Algarve, Professor Alberto Almeida, o Presidente da Câmara Municipal de Alcoutim, Dr. Francisco Amaral e o Director do Agrupamento de Escolas do Concelho de Alcoutim, Professor António Amorim.

Joaquim Fernandes Pinheiro Moreira[1]

Origens e vocação
Joaquim Fernandes Pinheiro[2] nasceu na aldeia de Salvaterra do Extremo, pertencente ao concelho de Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, no dia 14 de Abril de 1927.

Aos 11 anos, em Outubro de 1938, após concluir o ensino primário, ingressou no Seminário de Alcains. Em 1948 prosseguiu os estudos no Seminário de Gavião, iniciando o curso de Teologia. Transferiu-se depois para o Seminário Maior de Marvão, concluindo o referido curso em 1952.

No ano seguinte rumou a Faro, onde se tornou professor e prefeito do Seminário, cargos que ocupou até 1957.

Ordenação saderdotal
Nesta cidade foi ordenado sacerdote a 5 de Dezembro de 1954, pelo Bispo Coadjutor D. Francisco Rendeiro, durante um Solene Pontifical, um acto que se revestiu de invulgar brilhantismo e esplendor litúrgico. Além do Cabido, Clero e Seminário, tomaram lugar na capela-mor, os srs. Governador Civil [Manuel Mascarenhas Gaivão] e Cônsul de Espanha.
Entre os convidados, vimos distintas individualidades do distrito e do concelho, em representação do exército, da marinha, do ensino e de todas as obras educativas, patrióticas e assistenciais.
A assistência enchia por completo o vasto templo da Sé.
(…) No fim do Pontifical, Sua Ex.ª Rev.ma o Senhor Bispo Coadjutor proferiu uma notável alocução sobre o grande dom que o Senhor acabava de conceder à Diocese do Algarve, a graça de mais um novo sacerdote, e enalteceu o privilégio da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, em palavras repassadas de verdadeiro afecto filial para com a Mãe de Deus.[3]

Três dias depois Joaquim Moreira celebrou Missa Nova na sua terra natal, durante a solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, padroeira da freguesia.

A 17 de Março de 1955 foi nomeado pároco do Ameixial (concelho de Loulé) e em 1957 transferiu-se para o concelho de Alcoutim, tornando-se responsável pelas paróquias de Alcoutim, Pereiro e Giões. Em 1969 passou a acumular as funções de pároco de Martim Longo e Vaqueiros.

Entre 1958 e 59 ocupou o cargo de provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alcoutim.

Início de uma vida dedicada ao ensino
Desde cedo demonstrou uma elevada apetência para leccionar, exercendo o mister no Seminário de Faro durante quatro anos (1953 – 57).

Com a sua fixação no concelho de Alcoutim, inteirou-se de um sistema de ensino deficitário e de um analfabetismo extremo. De modo a colmatar as carências detectadas, iniciou em Giões, a 4 de Fevereiro de 1961, em regime de ensino doméstico, a preparação de 12 alunos para efectuarem o exame do 2º ano do Liceu em Faro. Dado que obteve resultados positivos prosseguiu a iniciativa até 1966, contribuindo deste modo para o sucesso escolar de dezenas de jovens alcoutenejos.

Um sonho realizado – a Telescola
Uma vez que o ensino nas freguesias mais afastadas da sede de concelho se cingia ao nível primário, Joaquim Moreira idealizou o seu alargamento a mais dois anos, através da implementação da Telescola.

Envidou esforços e em 1966/67 obteve o alvará para a criação do Posto Particular da Telescola n.º 481 em Giões. Quatro anos depois o mesmo foi transferido para Martim Longo, com duas salas de aulas, mantendo outras tantas em Giões.

No ano lectivo 1972/73 foi criado o Posto Oficial da Telescola n.º 120 em Martim Longo, que se repartiu entre esta localidade e Giões (as salas de aulas em Giões mantiveram-se até ao ano lectivo 1974/75).

A partir daí e até ao encerramento do Posto Oficial, no ano lectivo 1998/99, foi o responsável pelo mesmo, ministrando aulas de Português, Francês, História, Estudos Sociais, Matemática, Ciências da Natureza, Educação Moral e Religiosa.

Ensino com qualidade
Para além de leccionar, Joaquim Moreira preocupou-se igualmente em criar condições para que os alunos aprendessem condignamente, contribuindo assim para o seu sucesso escolar.

Na década de 1960 organizou colónias de férias, levando as crianças para a praia de Montegordo durante o período de verão, onde poderiam conviver e experimentar novas vivências na zona litoral.

As instalações físicas também o inquietaram, promovendo melhorias contínuas ao longo dos anos. Em 1970, após adquirir um prédio em Martim Longo, destinado a habitação, procedeu à sua adaptação para receber o Posto Particular da Telescola e posteriormente o Posto Oficial, realizando avultadas obras a expensas suas. Nos anos seguintes executou melhoramentos diversos no referido edifício, nomeadamente a criação de uma nova sala de aulas e instalações sanitárias. Deu ainda início à construção de um refeitório, pois era seu lema “Corpos mal alimentados, não são boas vasilhas para o trabalho intelectual.”

Foi também o responsável pelo aparecimento dos primeiros transportes escolares no concelho de Alcoutim. Para o efeito realizou diversas deslocações, em 1975, ao IASE (Instituto de Acção Social Escolar) em Lisboa e adquiriu, a seu cargo, uma carrinha para o transporte dos alunos do Posto Oficial da Telescola em Martim Longo.

Joaquim Moreira
O fim do sacerdócio e a família
Joaquim Moreira deixou em 1974, a seu pedido, de exercer o sacerdócio, obtendo dispensa por parte da hierarquia da Igreja.

Casou civilmente com Josélia dos Prazeres Teixeira, a 5 de Maio de 1974 e catolicamente a 23 de Dezembro de 1978. O primeiro filho, José António, nasceu em 1976 e o segundo, João Pedro, dois anos depois.

Faleceu em Vila Real de Santo António a 7 de Novembro de 2003.

O Reconhecimento
A 12 de Setembro de 1997, no dia do Município, foi homenageado pela Câmara Municipal de Alcoutim, sendo-lhe atribuída a Medalha de Mérito – Grau Prata, na área da Educação.

A 9 de Julho de 2008 foi proposta, também pela Câmara Municipal de Alcoutim, a atribuição do seu nome à Escola Básica de Martim Longo, tendo a denominação sido aprovada por despacho do Secretário de Estado da Educação, datado de 9 de Junho de 2011.

É indiscutível que Joaquim Fernandes Pinheiro Moreira desempenhou, durante quatro décadas, um papel preponderante no ensino no concelho de Alcoutim. O seu carácter forte e a persistência nos ideais possibilitaram que várias centenas de jovens do concelho prosseguissem os estudos para além da 4.ª classe, aumentado o nível de escolaridade e melhorando significativamente as suas perspectivas de futuro. Um legado que ficou vincado em várias gerações e que contribuiu de sobremaneira para o progresso de Alcoutim.


[1]As informações para a elaboração da presente biografia foram maioritariamente facultadas pelo Dr. José Moreira.
[2]Em 1958 requereu a rectificação do seu nome de baptismo, no sentido de passar a incluir o sobrenome Moreira.
[3]Jornal “Folha do Domingo”, n.º 2067, de 12/12/1954.

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